Os irmãos Pedro, Paulo e Assíria ao lado do técnico Agnaldo Santos (Arquivo Pessoal)

PAN CADETE E JÚNIOR: Agnaldo Santos e a perseverança transformada em medalhas

O Pan-americano Cadete e Júnior 2021 vai ter 32 atletas nacionais e oito técnicos. Um deles Agnaldo Santos, mineiro radicado no Mato Grosso do Sul, que classificou três atletas para o Pan Cadete e Júnior: Assíria, Pedro e Paulo, dois na categoria Júnior e um na categoria Cadete, feito que lhe rendeu o troféu de treinador destaque da Seletiva Nacional Cadete e Júnior 2021. Um relacionamento de quase 20 anos com o wrestling, com pequenos intervalos e desilusões, transformadas em um desejo de continuar e trabalhar pela modalidade.

“Sempre gostei muito de luta, treinava judô e fui convidado a treinar por um amigo que conheceu o wrestling em um projeto da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Treinei, gostei e dois meses depois estava competindo. A única coisa que sabia era que não poderia deixar ninguém dominar minhas costas no chão. Lutei a Copa CBLA fui bem e como tinha uma categoria de peso próxima da que pesava resolvi ficar. Vim para o Rio e passei um tempo treinando em diversos locais e resolvi deixar o judô para lutar só wrestling” contou Agnaldo.

Em 2005, Agnaldo teve o primeiro revés no esporte. O lutador esperava disputar a seletiva para os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro em 2007. Sem recursos financeiros, o lutador não pôde participar da Seletiva. A chance de ter mais contato e trabalhar com a modalidade nos Jogos Pan-americanos também não aconteceu. Agnaldo resolveu se afastar do wrestling, mas a oportunidade de voltar a dar aulas o reaproximou da modalidade.

“Em 2007, Iuri Estevão, um excelente lutador, era o titular, mas gostaria de ter tido a oportunidade de lutar contra ele pela vaga nos Jogos Pan do Rio. Depois disso, resolvi ficar fora da modalidade. Mas em 2010 surgiu a oportunidade de voltar a dar aula na Escolinha que a antiga patrocinadora da Confederação ia montar em diversos estados do Brasil. Dou aula para crianças desde os 14 anos e não pensei duas vezes em aceitar o convite para voltar a dar aula”, explicou Agnaldo, que primeiro deu aula de judô em Coxim, interior do estado, antes de se mudar para a capital sul-matogrossense.

Em 2013, ainda como lutador, Agnaldo viajou com a delegação brasileira para Cuba em um intercâmbio de treinamento, mas embora o desejo de continuar com a malha dentro do tapete fosse grande, a idade já não lhe permitiria sonhar em disputar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. No ano seguinte, uma nova oportunidade surgia: o curso de treinadores da Academia Brasileira de Treinadores (ABT) do Comitê Olímpico do Brasil. O wrestling ganhou um ex-atleta e um treinador aprimorado em áreas além do tapete.

“É difícil saber a hora de parar de competir, mesmo bem fisicamente e depois da viagem para Cuba, achei que dava para continuar, mas surgiu a oportunidade de fazer o Curso da ABT. Esse curso foi muito importante e da turma sinto que fui o que mais aprendeu e aproveitou. Aprendi lições importantes sobre anatomia, fisiologia, biomecânica e planejamento. Recebi ensinamentos valiosos dos bastante com os técnicos da seleção Angel Torres e Pedro Garcia e vi também que os treinos que estava realizando não estavam distantes do ideal”, explicou Agnaldo.

Depois de iniciar um trabalho em projeto gratuito em 2012, onde não era remunerado e não cobrava para dar aulas, Agnaldo conseguiu formar sua primeira equipe. Os resultados começaram a aparecer em Jogos Escolares, mas o projeto terminou pouco depois. Agnaldo resolveu alugar seu próprio espaço e os alunos do antigo projeto foram atrás do professor.  Os resultados de Amanda Leal, atual campeã brasileira no Sênior, e dos campeões da família Silva, formada pelos irmãos Assíria, Pedro e Paulo, fazem o trabalho de Agnaldo ecoar pela cidade e pelo estado, emergente na modalidade. O número de alunos só aumenta e o de convites para dar aula em outros lugares também. Mas os horários estão cheios para o treinador multifuncional.

“As medalhas atraem cada vez mais crianças que se espelham nos maiores e fazem o trabalho ser reconhecido. Atualmente, tenho poucos horários disponíveis para dar aula e não posso alterar os horários que já tenho. Os atletas do wrestling são os que mais treinam, são sete treinos por semana. O treinador precisa ser um pouco psicólogo também, entender o contexto familiar de cada aluno e procurar a ajudar os atletas a realizarem seus sonhos. O sonho é deles e precisamos auxiliá-los a chegar onde querem, mas só eles podem realizar o sonho”, explica Agnaldo.

Exigente no dia a dia, a dedicação aos treinamentos também gera recompensas. Em 2020, o COB em parceria com a CBW realizou a Missão Europa, e Mato Grosso Sul teve a oportunidade de indicar um atleta para participar do Campo de Treinamento, em Rio Maior, Portugal, uma decisão difícil de tomar. Amanda Leal que se tornaria campeão nacional sênior, Assíria, Pedro ou Paulo. Uma escolha complicada definida em virtude da dedicação e comprometimento dos atletas.

“Costumo dizer para os alunos: tudo acontece no seu tempo. Existem três situações que não podem acontecer de jeito nenhum no treino. A posição com as mãos na cintura, como se estivesse próximo de sacar um revólver; a de segurança do shopping, quando o lutador cruza os braços e  a última colocar as mãos no joelho, prestes a fazer uma passo de dança. A dedicação precisa ser diária. Foi uma decisão difícil ter que escolher apenas um atleta que ia para Missão da Europa, mas optei pela Assíria em virtude da dedicação demonstrada nos treinamentos. Este ano ela conseguiu se classificar para o Pan. Amanda também foi campeã nacional no Sênior esse ano. Pedro é outro atleta que vinha chegando próximo do título nas competições nacionais e este ano venceu.  É comum o atleta desmotivar, mas repito, tudo acontece no seu tempo”, frisa Agnaldo.

Depois de quase 20 anos, o tempo chegou também para Agnaldo que será um dos oito treinadores no Pan-americano Cadete e Júnior. O técnico não esconde a felicidade de poder representar o Brasil em sua primeira convocação como treinador e espera auxiliar toda a equipe nacional formada por 32 atletas.

“Sinto que essa convocação é um reconhecimento do trabalho. No México, espero ajudar todos os atletas brasileiros no córner e fora do tapete. O wrestling está crescendo e podemos crescer ainda mais, acredito que a política de gestão de pessoas quem trabalham para a Luta e que fazem o esporte acontecer, vai ser muito benéfica para a modalidade. Levar mais de 30 atletas em uma competição é algo marcante e que vai representar muito para atletas e treinadores que vão participar da competição” completa Agnaldo.

O wrestling brasileiro disputa o Pan-americano Cadete e Júnior 2021 de 9 a 13 de junho, em Oaextepec, no México.