Heróis dos Jogos Pan: Roberto Leitão

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A série “Heróis dos Jogos Pan” chega ao segundo capítulo relembrando a medalha de prata conquistada por Roberto Leitão na edição dos Jogos Pan-americanos de 1987, em Indianápolis, Estados Unidos. O retorno da Luta Olímpica ao pódio da competição mais importante das Américas, trinta e seis anos depois da conquista de Antenor da Silva, o Baianinho, marcou o início de um processo de autonomia da Confederação Brasileira de Lutas Associadas e o início da estruturação do esporte.

Roberto Cláudio Leitão Filho começou a praticar o esporte por influência direta do pai e treinador Roberto Leitão, reconhecido dentro e fora do país pelo nome de  Mestre Leitão pela habilidade em diversas tipos de Luta e a capacidade de transmitir ensinamentos aos seus alunos. Mas antes de encarar os rivais, o brasileiro teve que superar uma desconfiança sobre seu desempenho.

“Três meses antes dos Jogos Pan-americanos sofri uma lesão e tive que operar o joelho. Naquela década, uma operação de joelho não era tão simples como hoje e algumas pessoas não acreditavam na minha recuperação e nem queriam que eu viajasse para Indianápolis”, relembra Roberto Leitão.

Roberto se recuperou e foi convocado pelo Comitê Olímpico do Brasil para representar o país no estilo livre até 90kg e também no estilo greco-romano, ao lado de Alexandre Souza até 130kg  e José de Oliveira até 74kg. Na Vila Pan-americana, um dos raros momentos de descontração entre um treino e outro eram as piadas de Zequinha Barbosa do atletismo, medalhista de ouro na competição e veloz também com as palavras. Mas um  momento daquela edição do Jogos ainda permeia as lembranças do ex-atleta.

“O momento no desfile de abertura foi espetacular. Os jatos da força aérea americana quebraram a barreira do som, justamente na última nota do hino nacional americano. Outra boa lembrança da competição eram as rodas de piada comandadas por Zequinha Barbosa e convívio com Agberto Guimarães, também do atletismo e Oscar Schmidt, do basquete”, lembrou.

Em 1987, o sistema de competição também era diferente do atual. Os atletas de cada peso eram divididos em dois grupos. Na categoria de Roberto, até 90kg, foram sete atletas. Logo, um grupo ficou com quatro atletas e o outro com três. A chave era feita em um sistema todos contra todos com eliminatória dupla, ou seja, o atleta que perdesse duas vezes estava eliminado. Para disputar o ouro era preciso ser campeão do grupo.O brasileiro venceu  e fez a final contra Doug Cox, outrora rival, hoje amigo.

“Quando competíamos não tínhamos muito intimidade mas pouco depois fui morar em Guelph, no Canadá e nos tornamos amigos. Já retornei a Guelph umas cinco vezes e sempre nos encontramos, inclusive durante o período de preparação da equipe feminina para esta edição destes Jogos Pan-americanos”, explica o hoje Superintendente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas.

O ouro ficou com Doug, mas a medalha de prata conquistada por Roberto Leitão com condições bem  inferiores de treinamento e investimento teve um valor incalculável. Durante a cerimônia de premiação um momento inesquecível na carreira do atleta e da comunidade do wrestling mundial. No terceiro lugar, abaixo do brasileiro e do canadense, o norte-americano James Scheer, bronze no campeonato mundial em 1986, um ano antes. Mas não bastasse o feito de terminar à frente do americano, outra agradável surpresa estava reservada para  o momento da entrega da medalha.

“Até hoje sou lembrando quando acompanho a seleção nacional nas competições internacionais por ter ficado à frente do Scheer. A medalha foi entregue pelo meu pai que também era meu treinador e o narrador do ginásio ressaltou para que todos soubessem “De pai para filho”. Certamente foi a minha maior conquista como atleta e eu sonhava que poderia ser campeão olímpico, mas só depois de muitos anos é que eu entendi que naquele momento era a luta de um indivíduo contra atletas preparados com suporte de uma nação. Hoje tenho a noção do quão difícil é ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos” , relembra Roberto.

Depois que encerrou a carreira Roberto Leitão virou treinador com atletas de destaque como Antoine Jaoude, – próximo personagem da série “Heróis dos Jogos Pan” – e posteriormente dirigente, atuando ativamente no desenvolvimento da modalidade no país, promovendo intercâmbios com outros países e lutando por melhores condições para os atletas nacionais. Roberto Leitão também é Secretário Geral da United World Wrestling das Américas, órgão que regula o esporte nas Américas. Hoje, o ex-atleta atua como Superintendente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas e estará em Toronto como chefe da delegação brasileira.

Recado do medalhista para equipe brasileira em Toronto:

“Uma medalha nos Jogos Pan-americanos pode mudar a vida esportiva de um atleta para sempre. O Brasil já chegou junto com os adversários e vocês têm o apoio da Confederação. Todos que se classificaram possuem chance de medalhar. Confio em vocês” Roberto Leitão.

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Aos 50 anos, Roberto Leitão é Superintendente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (Renato Sette/ CBLA)