Heróis dos Jogos Pan: Antoine Jaoude

AntoineA série “Heróis dos Jogos Pan” chega ao seu terceiro capítulo relembrando a conquista de Antoine Jaoude, medalha de prata nos Jogos Pan-americanos de 2003, em Santo Domingo, República dominicana. O caminho da medalha começa bem longe do Brasil, mais precisamente no Líbano, Ásia Ocidental. Filho de pai libanês e mãe brasileira, Antoine viajou com a família para um período de férias na terra natal do pai. Em virtude da eclosão da guerra civil religiosa no país, Antoine e a família ficaram impedidos de deixar Beirute, capital do Líbano. Enquanto bombas e rajadas explodiam pela cidade, os Jaoudes tentavam manter os filhos alheios à guerra e um esporte chamou atenção de Antoine na televisão: a Luta Olímpica.
A família Jaoude conseguiu retornar a salvo para o país e Antoine procurou um local para poder praticar a modalidade que tanto o atraiu. Antoine passou então a treinar com Roberto Leitão, medalhista dos Jogos Pan-americanos em 1987 e representante do país nos Jogos Olímpicos em Seul 1988 e Barcelona 1992. E foi assim que começou a carreira de um dos esportistas mais vitoriosos da Luta Olímpica nacional. Mas o caminho não foi nada fácil até ter a chance de lutar por uma medalha. Para poder lutar de igual para igual com os rivais continentais era preciso realizar intercâmbios fora do país, política pouco comum na época e defendida pelo atleta.

“Antes dos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, fizemos um período de intercâmbio na Bulgária, o que foi essencial para a conquista da medalha. Não existia o hábito de viajar para outros países e tentávamos por meio de vídeos copiar os movimentos dos atletas adversários. A Bulgária desenvolveu um  estilo próprio de lutar e isso nos ajudou muito na luta. Consegui colocar em prática no torneio o aprendizado nesse intercâmbio”, relembra Antoine.

Na competição, já disputada no sistema atual de eliminatórias, Antoine avançou até afinal sem dar chances aos rivais. Na luta final, restava encarar um dos melhores atletas da geração, o norte-americano Daniel Cormier, semifinalista dos Jogos Olímpicos e hoje com carreira consolidada no mundo das artes marciais mistas. Antoine começou bem e tirou o americano para fora da área de lutas, mas Cormier reverteu o placar e venceu. A medalha de Antoine recolocou o Brasil no mapa da Luta Olímpica mundial após 15 anos ou três edições sem pódio nos Jogos. O brasileiro foi o único atleta sul-americano a subir ao pódio entre os dezoito atletas nas seis  categorias do estilo livre masculino. Mas Antoine demorou a se dar conta do feito que tinha acabado de atingir.

“Quem me conhece sabe que não gosto de perder. Depois da luta na final, eu estava bastante irritado de ter conseguido sair na frente e não ter vencido, meu sorriso saiu até meio forçado na foto. Só depois com as entrevistas que dei logo após da luta para televisão, jornais e sites é que percebi a importância. Já tinha 15 anos que o país não conquistava uma medalha em Jogos ” confessou Antoine.

Outro fato curioso deu um auxílio para que a ficha de Antoine caísse mais rapidamente. Depois de retornar para Vila Pan-americana sob aplausos e uma chuva de congratulações pela conquista. Antoine mostrou a medalha para o triatleta e companheiro de quarto, Virgílio de Castilho, o resultado não poderia ser outro.

“Quando voltei para o quarto na Vila Pan-americana, encontrei com o Virgílio e ele me pediu para ver e pegar a medalha para dar sorte. Pouco depois,  ele acabou conquistando também a medalha de prata no triatlo. Ele também foi o único atleta a subir ao pódio no triatlo naquela edição de Jogos Pan-americanos ” revela Antoine, único da Luta Olímpica no pódio em Santo Domingo.

A medalha somou pontos importantes para participação de Antoine Jaoude nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. A vaga obtida por índice técnico chamou atenção de público e mídia para o esporte já que, em 2007, os Jogos Pan-americanos seriam disputados no Brasil. Antoine passou a ser sinônimo da Luta Olímpica nacional e influenciou uma nova geração de atletas, inclusive dentro de casa. O irmão Adrian Jaoude seguiu os passos do irmão mais velho e se tornou um multicampeão da modalidade e é o principal atleta da categoria até 86kg no estilo livre. Embora esteja afastado das competições oficiais desde 2014, Antoine ainda sonha em disputar os Jogos Olímpicos do Rio, mas admite que precisa estar bem fisicamente para chegar com reais condições de obter a vaga.

“A medalha na República Dominicana e a participação nos Jogos Olímpicos certamente influenciaram meu irmão a seguir no esporte. Todos sabem que tenho que estar 100% fisicamente para lutar bem. Em 2014, tive alguns problemas pessoais, mas estou voltando” projetou  Antoine.

Recado do medalhista:

“Desejo uma boa sorte para toda equipe.Todos os atletas devem confiar em si mesmos. Eles estão bem treinados e só eles sabem até onde podem chegar. Na luta tudo é possível. Eles deram duro para estar lá e devem dar tudo de si no tapete”  Antoine Jaoude.

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Antoine foi um dos poucos atletas a quebrar a defesa de Daniel Cormier (Evandro Teixeira/COB)