Com trabalho reconhecido, treinador internacional David Maia vai comandar Campo de Treinamento Greco-romano em Maricá

A Confederação Brasileira de Wrestling em parceria com o setor de Desenvolvimento do Comitê Olímpico do Brasil realizam o primeiro Treinamento de Campo Nacional para Formação de Treinadores e Atletas do estilo greco-romano. Para comandar as atividades, a CBW trouxe o treinador português David Maia, que vem pela primeira vez ao Brasil e pretende proporcionar uma experiência diferenciada aos treinadores e atletas que participam de 27/11 a 4/12 no Instituto Federal de Maricá das atividades que vão desde treinamento, passando por táticas de lutas e palestras da área multidisciplinar do Comitê Olímpico do Brasil.

 “O wrestling me levou seja competindo ou como treinador para vários lugares do mundo e pela primeira vez terei  a oportunidade de visitar o Brasil. Vou buscar ensinar o que aprendi ao longo dos anos da escola europeia e da escola cubana com o treinador Raul Trujillo. O Brasil possui um potencial muito grande e tenho certeza que em pouco tempo pode ser um dos principais países das Américas no estilo greco-romano”, projetou David Maia.

O início de David no Wrestling foi no Clube Desportivo de Arroios. No início, o jovem ia ao clube com a avó para poder ver televisão, eletrodoméstico que poucos tinham acesso nos anos 70. Em pouco tempo, o menino foi convidado para treinar e começou a se destacar. Mas por pouco, o jovem português não trocou malha e sapatilha por camisa e chuteira.

“Tinha 13 anos quando fiquei treinando em um clube de futebol e de lá fiquei até os 15 anos. Quando regressei ao clube e ao wrestling, os atletas novos não entendiam quem era aquele garoto que estava ganhando de todo mundo. A partir daí, segui no wrestling e não parei mais”, explicou David.

Os inúmeros títulos nacionais fizeram com a que a Federação Portuguesa fosse atrás de treinadores internacionais para colocar seus principais atletas em condições de disputa com outros países europeus e do mundo. Em 1990, a equipe era comandada por um treinador búlgaro e em 1996, o técnico cubano Raul Trujillo (atual chefe de treinadores da equipe cubana) é convidado para comandar a equipe nacional. No mesmo ano, David viraria atleta olímpico e, sem perceber, já começava o trabalho de treinador naturalmente.

“A vinda do Raul Trujillo foi muito importante para nós. Já em 1996 consegui ficar entre os melhores do ranking europeu e participar dos Jogos Olímpicos de Atlanta na categoria 57kg do estilo greco-romano. Depois comecei a ter problemas de lesão e já na fase final de carreira, Raul fez o convite para que integrasse a comissão técnica e fosse seu assistente. Aprendi muito com ele”, explicou David.

A metodologia trazida por Raul, aliada aos ensinamentos  fizeram a transição da carreira de David ser um sucesso.  Em 2000, assim que deixou a carreira de atleta, David passou a ser treinador do seu clube (Casa Pia Atlético Clube) e em um ano 90% dos seus atletas já faziam parte da equipe nacional.  O treinador Raul teve que regressar para Cuba e David comandou a equipe nacional que teve em Hugo Passos seu expoente com a ida para os Jogos de Atenas 2004, mesmo ano do retorno de Raul Trujillo para Portugal, que acabou sendo o treinador olímpico de Portugal.

“Fico um sabor amargo de não estar sentado na cadeira de treinador nos Jogos Olímpicos, mas também ali ficou a certeza de que o trabalho estava dando certo. Raul ficou três anos fora antes de voltar por conta do visto de trabalho e quando voltou a classificação estava garantida. Pouco depois, ele retornou para Cuba e segui com o trabalho à frente da equipe nacional. Raul soube aproveitar bastante os elementos da luta europeia com o da escola cubana é por isso que neste momento é considerado por muitos o melhor treinador do mundo” explicou David.

Treinador disputado entre Suíços e Austríacos

De 2004 a 2013, David foi responsável por comandar atletas cadetes, juniores e sênior da equipe portuguesa. As mais de 100 medalhas obtidas em torneios internacionais fizeram o treinador buscar novos ares. Uma oportunidade de emprego de sua  esposa na Suíça fez com ele se mudasse e passasse a treinar uma equipe local: o KSV Götzis.

“Depois de anos à frente da equipe portuguesa estava em busca de novos desafios. Me mudei coma família para Suíça e surgiu a oportunidade de ir trabalhar na Áustria fez com que visse o quanto o Wrestling faz parte da cultura do país. Trabalhamos bastante e rapidamente conseguimos colocar a equipe em 2º lugar da liga austríaca”, explicou David.

O sucesso despertou interesse do país vizinho, onde David residia. O Ringer Club Oberriet-Grabs fez uma proposta financeira irrecusável e David trocou amigavelmente de país. O sucesso foi repetido no clube suíço e em pouco tempo os resultados apareceram.

“A equipe não passava do 4º lugar o torneio nacional e no ano anterior lutava para não descer de divisão. Com a mesma equipe conseguimos  subir de divisão e ter 7 campeões nacionais entre as categorias etárias igualando um recorde que já tinha 14 anos. Além disso, o público começou a se interessar e saímos de um púbico de familiares para 300 pessoas no ginásio pagando ingresso para assistir os combates”, contou David.

Em 2017, um novo convite fez David cruzar o oceano e desembarcar no México. Com as categorias de base muito forte, os mexicanos precisavam voltar aos Jogos Olímpicos. David no início foi convidado para trabalhar como diretor-técnico e depois a pedido dos lutadores trabalhou exclusivamente com a equipe do estilo greco-romano.  Foi aí que os caminhos se cruzaram com o wrestling nacional.

“Já conhecia o presidente Flavio dos tempos de atleta e o reencontrei na cidade de Nuevo León em um campo de treinamento da equipe brasileira e conversamos bastante naquela oportunidade. Com a pandemia causada pelo coronavírus, deixei o México e regressei para Europa. Recebi uma mensagem e o convite do presidente para vir ao Brasil e estou muito feliz de participar de poder dar esse treinamento”, projetou David.

O treinamento vai contar com cinco dias de ensinamentos no Instituto Federal de Maricá e vai muito além das posições e técnicas do estilo greco-romano. David pretende passar a importância do treinador no desenvolvimento da modalidade como um todo e a importância de todos estarem integrados em um mesmo objetivo.

“O Brasil quer ver a evolução  dos treinadores como um todo. Eles não podem ter receio de passar o que sabem uns para os outros. Sou um treinador humilde e bastante exigente. Não estou indo para avaliar o trabalho dos treinadores, quero que eles aprendam uns com os outros e vou procurar passar o que aprendi com as escolas cubanas e europeias.  Estou animado e feliz de estar no Brasil pela primeira vez” encerrou David.