Brasileiros da luta trocam dia pela noite em busca de vaga olímpica na China
De olhos bem abertos. É assim que os lutadores brasileiros que disputam vagas olímpicas a partir desta segunda, na China, esperam estar durante a competição. Para isso, eles fizeram um treinamento especial para superar o fuso horário de 11 horas em relação ao Brasil.
“No início foi complicado, tinha sono fora de hora, fome, todos os sintomas de quem viaja para longe mesmo”, conta Joice Silva, da categoria até 55 kg, estilo livre. Ela diz que vale tudo para que os atletas não sintam sono na hora da luta.
Também do estilo livre, até 120 kg, Antoine Jaoude é o maior nome da modalidade hoje, com passagem pela Olimpíada de 2004 e 11 medalhas em Pan-Americanos.
Ele conta que a adaptação pensada pela equipe médica do comitê olímpico foi gradual. Na semana retrasada, os treinos passaram a ocorrer no período da noite, a partir das 20h, e a cada dois dias começavam uma hora mais tarde. No fim, tinham início à 0h30, hora da competição. Os horários das refeições também mudaram: café da manhã às 12h, almoço às 18h, janta à 0h.
Jaoude diz que não mede esforços para voltar aos Jogos Olímpicos. “Busco mostrar a importância da luta para as crianças e poder conquistar uma medalha para que a luta seja reconhecida”, afirma.
Ele diz que aos poucos o país está crescendo na modalidade, mas cobra maior apoio da iniciativa privada ao esporte para que os atletas possam cumprir um calendário internacional e se fortalecer para disputar com países como Rússia, Cuba, Estados Unidos, Bulgária, Japão, Canadá, Turquia e Irã.
Depois da competição na China, que vai até o próximo domingo, a equipe tem mais uma chance, a última, de conquistar vagas olímpicas na Finlândia, entre 30 de maio e 4 de junho.
Além de Antoine Jaoude e Joice Silva, a delegação conta com Davi Albino (até 96 kg), no estilo greco-romano, Dailane Gomes (até 63 kg) e Aline Ferreira (até 72 kg), no estilo livre feminino, e Adrian Jaoude (até 84 kg), também do estilo livre
Adrian, que é irmão de Antoine, foi prata no Torneio Dan Kolov & Nikola Petrov na Bulgária, em fevereiro deste ano, um feito que anima Antoine.
“Hoje em dia estamos indo lutar no Leste Europeu, onde futebol não existe, de igual para igual”, afirma. “O problema é quando passa a Olimpíada”, completa o atleta, que defende que a luta olímpica é um esporte barato e com grande potencial de ser usado como antídoto contra a violência em lugares pobres. “Com apenas uma bermuda um garoto consegue treinar e sempre vai levar um irmão, um amigo, porque não dá para lutar sozinho”, diz.
Fonte: UOL