Nova realidade em voos internacionais (Foto: reprodução da internet)

Artigo de Medicina Esportiva dá dicas para evitar contágio em voos e aeroportos

A pandemia do coronavírus colocou em evidência o risco de transmissão de infecções associadas às viagens aéreas. Em virtude da Missão Europa, onde 20 integrantes viajam neste domingo para Portugal, o Dr. José Alfredo Padilha, médico da CBW e um dos responsáveis pela realização da Seletiva Pan-americana para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em março deste ano, recomendou um artigo do British Journal Sport Medicine – BJSM (Jornal Britânico de Medicina Esportiva), com dicas e cuidados em voos durante a pandemia.

“O artigo de especialistas em medicina esportiva foi feito para atletas e comissões técnicas que vão viajar. É importante entendermos que ainda estamos em um período de pandemia e que o aeroporto é um local onde muitas pessoas circulam. Logo, os cuidados devem permanecer no aeroporto tanto na ida, quanto no retorno, no avião e no país do treinamento ou competição”, explicou Dr. Padilha.

A publicação é fruto de uma conversa entre o Dr. Liam West do BJSM  e o Dr. Wayne Derman para discutir os desafios únicos impostos por viagens aéreas e como eles podem ser superados. Prof. Derman é Diretor e Responsável pelo Instituto de Medicina do Esporte e do Exercício na divisão de Cirurgia Ortopédica da Universidade de  Stellenbosch. Ele também é Diretor do Centro Médico de Excelência da FIFA e Co-Diretor do Centro de Pesquisa IOC para Prevenção de Lesões e Proteção da Saúde do Atleta.

As consequências da COVID-19 nas viagens aéreas

Prof. Derman explica que  viagens e o movimento de pessoas de uma região geográfica para outra é o epicentro da crise em que nos encontramos. Como consequência, viajar de avião agora é completamente diferente do que era há seis meses com uma série de métodos aprimorados de segurança e higiene usados nos aeroportos e durante os voos. As medidas de seguranças vão desde de distanciamento social e uso de máscaras e desinfetantes para as mãos, a desinfecção UV, triagem por temperatura nos sistemas de monitoramento dos aeroportos e menus digitais nos voos.

As cinco formas de transmissão de infecções durante viagens aéreas

Contato – A transmissão por contato pode ser direta (de uma pessoa para outra) ou indireta, através de objetos infectados.

Gotículas – O spray de gotículas durante um espirro ou uma tosse pode espalhar a infecção quando inalado ou quando tem contato direto com as mucosas ou os olhos.

Pelo ar -Alguns agentes infecciosos são de natureza aerossol. Essas pequenas gotículas aerossol podem ficar suspensas no ar por longos períodos de tempo e podem viajar longe, espalhando a infecção conforme são inaladas profundamente nos pulmões.

Por vetores – Doenças transmitidas por vetores são aquelas transmitidas, por exemplo, por mosquitos. Os aviões são pulverizados frequentemente antes de decolar para combater isso.

Veiculação comum – Refere-se às infecções transmitidas através de uma fonte contaminada, por exemplo, água e comida.

Em um estudo de 2012, em que o Prof. Derman foi co-autor, descubriu-se que atletas de elite que viajavam para destinos internacionais com diferença de fuso horário do seu país de origem tinham um risco de 2 a 3 vezes maior de ficar doentes. Por que será? É provável que seja devido a uma combinação de fatores intrínsecos (atleta com pré-disposição) e fatores extrínsecos (ou fatores externos).

Fatores intrínsecos incluem:

Estresse transitório  – algo com o qual os atletas frequentemente  sofrem perto das competições.

Noite mal dormida – outro fator que pode ser desencadeado pela competição/ viagem.

Supressão/ Disfunção imunológica – as causas incluem jet lag, treino excessivo  ou lesões.

Fatores extrínsecos incluem:

Objetos infectados – Prof. Derman explica como a mesinha-bandeja é uma área com uma carga de patógenos particularmente alta, frequentemente com mais de 2000 unidades formadoras de colônia por polegada quadrada. Outras áreas notáveis incluem os botões/metais dos bebedouros nos aeroportos, que contém 1240 unidades formadoras de colônias por polegada quadrada e botões de descarga, ventilações aéreas e fivelas de cinto de segurança que contém cerca de 250 unidades formadoras de colônia por polegada quadrada. Para comparação, dinheiro, telefones e assentos sanitários domésticos tem cerca de 5, 27 e 170 unidades formadoras de colônia por polegada quadrada respectivamente.

Alocação de assentos – indivíduos sentados em assentos do corredor estão em risco maior de exposição aos indivíduos infectados que podem passar pelo corredor. Aqueles que se mantém sentados nos assentos das janelas durante o voo têm o risco reduzido – Prof. Derman diz que as pessoas nesses lugares considerem usar meias de compressão para reduzir o risco de trombose.

Outros fatores extrínsecos incluem espaço reduzido na aeronave, ventilação/circulação ineficiente, limpeza ineficiente, duração do voo, influência geográfica e do clima.

 

Dicas práticas do Dr. Derman para minimizar a chance de contrair o vírus:

  • Escolher assentos na frente ou atrás do avião.
  • Ficar sentado o máximo possível e tomar medidas anti-trombose (por exemplo, fazer exercícios no seu assento).
  • Antes de se sentar, limpar o ambiente ao seu redor (incluindo a mesinha-bandeja, ventilação aérea e a fivela do cinto) com lenços antimicrobianos/desinfetantes. Lenços com álcool a mais de 60% se mostraram eficientes em danificar a estrutura viral.
  • Usar máscara – demonstrou diminuir o número de vezes que um indivíduo toca o rosto (seres humanos tocam o rosto pelo menos 20 vezes a cada hora) e também ajuda os atletas a demonstrarem auto-controle.
  • Lavar regularmente as mãos realizando uma boa higienização das mesmas.
  • Quando andar pelo corredor, evitar tocar nos assentos.
  • Evitar comida e bebida não aquecidas adequadamente.
  • Hidratar-se bebendo água engarrafada, não do bebedouro.

Essas estratégias funcionam? Em um estudo que abrangeu 7 temporadas do torneio Super Rugby, Prof. Derman e seus colegas descobriram que a implementação de uma estratégia de prevenção de infecção da equipe foi associadas a uma redução de 59% de doenças agudas.

*** Com informações extraídas do British Journal Sports Medicine. Clique aqui para ler e ouvir o texto e podcast na íntegra