2º Campo de Treinamento Feminino trouxe conhecimentos para além do esporte

A Confederação Brasileira de Wrestling (CBW) em parceria com o Comitê Olímpico do Brasil (COB) realizou de 27 de outubro a 04 de novembro a segunda edição do Campo de Treinamento Feminino, no Clube Campestre, em Campina Grande-PB. A ação foi comandada pelas treinadoras Mayara Graciano, Rafaela da Luz, Dailane Reis e Gracyenne Helena e contou com ensinamentos para 16 atletas das categorias sub-17 e sub-20. 

Além do treino de wrestling com posições e técnicas de tapete, as integrantes do camping tiveram uma série de palestras relacionadas ao universo esportivo e feminino. Os temas variaram entre nutrição (com Karoline Silva), equidade e diversidade (com Aline Silva), empoderamento e transição de carreira (com Aline Silva) e saúde da mulher (com a ginecologista Maysa Simão).

“Foi mágico unir forças com mulheres em busca de um único ideal. Promover o desenvolvimento e crescimento de todas nós unidas em prol do esporte que é uma ferramenta de transformação social, pessoal e profissional. Nosso time atuou desde o início, com o cronograma diário, planejamento dos treinos, gestão dos fluxos diários e um projeto, no treinamento, nos relatórios e gerenciamento de conflitos”, disse Rafaela da Luz.

Além de atuarem como treinadoras durante o camping, as professoras também tiveram papéis importantes nos “bastidores do evento”. Elas foram as responsáveis por contatar as atletas e  desenvolverem o camping, lidando com questões administrativas e de logística, bem como com as palestrantes. Mayara Graciano foi a responsável por idealizar o projeto.

“É muito bom quando você vê uma ideia tomando uma proporção assim. O empoderamento das meninas através do esporte, mostrar para elas que nós temos capacidade de chegar em cargos de grandeza e de poder e temos que nos unir para ter essas conquistas”, disse Mayara Graciano, que ainda se mantém na carreira de alto rendimento, mas já é formada em Educação Física.

Na avaliação das treinadoras, o camping teve grande importância na integralização das atletas, mas ele não foi restrito apenas ao âmbito esportivo, sendo também expandido para o campo social. “Exploramos a convivência com outras pessoas, cumprir com os horários, a disciplina e a pontualidade são coisas que precisamos para a vida toda. O camping é muito importante para o desenvolvimento pessoal de cada menina. Quanto mais conhecimento, mais aprendizagem”, falou Mayara.

Através desses ensinamentos, as treinadoras quiseram passar a ideia de união para as meninas. “Às vezes, nós não sabemos o que significa cada coisa. Todo mundo ouve falar sobre empoderamento feminino, mas nem sabe o que significa a palavra ‘empoderamento’. Nós quisemos simplificar e passar essas coisas para elas. É muito importante falar disso, porque viemos de um mundo do patriarcado e do machismo”, concluiu Mayara.

“Muitas vezes nós mulheres não entendemos e não temos clareza do que acontece na sociedade e o porquê. Levar conteúdos e conhecimentos multidisciplinares como equidade, diversidade e empoderamento feminino faz com que reflitam e entendam a importância do nosso papel e o quanto vamos batalhar para conquistar nosso espaço, e que a rede de apoio é importante entre nós. Assim como conteúdos de saúde e nutrição que muitas não têm acesso e poderão levar para seus ambientes de treinamento”, concordou Rafaela.

Na história do wrestling brasileiro, são as mulheres quem têm os melhores resultados. A única medalha em um Campeonato Mundial veio com Aline Silva (prata em 2014). Considerando os torneios de base, foi Aline Silva quem também conquistou o único pódio do Brasil, na categoria sub-20 em 2006. Considerando os Jogos Pan-Americanos, o único ouro do país na história foi obtido por Joice Silva, em Toronto-2015. Nas últimas quatro edições de Olimpíadas, a participação feminina do Brasil foi maior do que a masculina no wrestling.

Para as treinadoras, o desenvolvimento do wrestling brasileiro como um todo deve estar atrelado ao investimento nas mulheres para além do esporte em si. “Eu acredito que o investimento no desenvolvimento deve acontecer em nós mulheres, de forma geral nas equipes multidisciplinares, nas atletas, nas gestoras e nas treinadoras. Temos competência para gerir em qualquer espaço, tanto no estilo feminino como masculino”, opinou Rafaela.

A equipe ficou concentrada em Campina Grande e todos os treinos foram realizados dentro do Centro de Treinamento Nacional, localizado no Clube Campestre, também na cidade paraibana, e contou com o suporte da área de fisioterapeutas do clube. As treinadoras foram as responsáveis por organizar o evento, que teve parceria com a Coordenadoria da Área da Mulher no Esporte do COB, liderado por Isabel Swan.